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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

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Cheiro de chuva no vento pela janela. Cheiro de chuva com sol das sete, com café e pão assado. Cheiros que só fazem sentido aqui. Amores que só fazem sentido aqui. E o meu tempo vai-se esgotando. Compensando a mais imensa solidão com euforia. E de tudo que sinto obrigo-me a ir para o lado completamente oposto. Recusando-me a sofrer, magoando-me ainda assim, por admitir que nunca serão alegrias todas as minhas euforias.
Por admitir com alguma lágrima no escuro da noite, que o que eu quero é tão pouco, muito menos do que todo o trabalho de sair à noite, perder tempo no espelho, gastar-me em conversas vãs, eu só queria alguém do meu lado nessa noite escura. Alguém que não esteja carregado de perfume, que não vai reparar se não uso maquiagem. Que não vai estranhar se eu dormir encolhida e ter paciência se eu precisar dormir abraçada. Que vai olhar o meu cabelo de manhã e continuar achando bonito. Não, não é ausência de sentimentos. É o absurdo excesso de todos eles, protejo-me.

Sem qualquer fé, sem qualquer esperança, sem forças de recomeçar ou insistir em qualquer coisa. Esse vazio ao qual vou dando espaço, começo a perceber que não é muito melhor do que deixar-me sofrer. A correnteza que escolha por mim. Ainda não aprendi a amar de uma forma que não inicie apenas por retribuir. Assim como uma rápida chuva fina pode me trazer tanta tristeza, simples demonstrações de afeto me conquistam. definitivamente.



"e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada"

(Caio Fernando Abreu)



"Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só..."




(Florbela Espanca)










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