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domingo, 26 de setembro de 2010

lamento do lírio branco


 Lírio de brancas asas, flor viajora
Que não descansas o pensamento incessante
Não te cessa esse querer de voar?
Não te quedas pelo vil medo de amar?

Lírio de brancas asas
Que não repousas de tua ânsia fatigante
Onde vais, assim, sem meu olhar?
Onde irei eu, adiante, sem te encontrar?

- Vou em busca do meu bem de lutar
Penso as cores e as flores que trarei
Levo no peito os amores que deixei
Deixo contigo a esperança do porvir
Do retorno de quem não quis partir.

Soneto

Veja quem vem, o vento...
De longe ele vem vindo
E de frio, curvada, estou indo
Soprando com ele um lamento.

Este vento, tão frio assim
Com meus cabelos brincando
E em meu rosto soprando
É o frio que faz em mim...

É um frio que está aqui...e sai
É o vento que esfria meu ser
E por meus olhos se vai

Ao longe ele está soprando
E a ilusão que tentava nascer
Consigo ele vai levando...

Partida

Aonde pensa
Que vai o amor?
Como criança traquinas
Parte e ousa, pequenina
A estrada sem temor.
E com os olhinhos adiante
Narizinho tão pedante
Peito aberto e passo firme,
Desafia o desespero
Deixa vago esse mosteiro
Que hoje sangra e me redime.




FOLHAS SECAS

Vejo hove o vento vindo da invernada
Mais que de repente uma cruel rajada
De trovões e raios que o céu desfere

Contra mim, e folhas secas voam
Onde meus passos arrastados soam
Como o tropel que a mim mesma fere.

Em vão procuro divisar um rancho
Para trancar consigo o meu pranto
E mesmo em face do frio, quisera

Estar perdida para me buscares
E me arrancar de todos os olhares
E me roubar a última quimera
.
A vida é repleta de momentos ruins e outros muito bons...a diferença é que eu não vou sozinha. O dia-a-dia só nos revela cada dia mais o que nunca queremos ser. Nos tornamos iguais...por querer?
 Parece tudo tão simples agora:calmaria, rumos certos, serenidade. O mais engraçado é que eu posso encontrar tudo num céu azul, num cheiro de mato verde, numa paisagem duma foto...
 O que me faz pensar que as respostas estão todas ali, em frente. Me dá a certeza de que Deus é o mais simples possível, me levando a encontrá-lo cada dia mais dentro de mim. Descubro-o de dentro para fora, não o contrário.
 Assim aparecem respostas, para essa grande coisa que é a vida... inventamos tanto com a nossa inteligência, será que de tudo isto precisamos mesmo? O fato é que meus pés foram feitos para a areia molhada, mas preciso do dinheiro para calçá-los se quiser pisá-la. Isso nunca me libertaria.
 Simplesmente e sutilmente. O sagrado da vida. Contemplação é a Real oração, nenhuma outra. Liberdade de dentro para fora, de Deus para nós, do amor para a vida, para nós que precisamos tanto dele!
 Amor que traz harmonia, serenidade, paz, fé, respostas, encontros, certezas. Que vem de Deus e é a nossa grande chave.Ter amor é plenitude.
 E de todas as coisas que eu poderia dizer com meus pés na terra e meu corpo em águas limpas do mar sem fronteiras, a maior seria: Sinta. Essa é a chave de tudo. Que nos leva a procurar o melhor a todo instante, que não nos deixa sossegar, porque queremos a nossa essência. E muitos ainda nem saíram a procurar.

Parece que foi ontem...

Ainda me lembro do exame nas mãos, do meu andar, “pisando em ovos”...Você, tranquilão, provavelmente ria-se de todas as minhas nóias e se pudesse diria: “relaxa,mamãe!”
 A primeira roupinha que comprei, o primeiro sapatinho,já abriam um grande espaço no armário,mas não maior do que passavam a abrir no meu coração. A descoberta do sexo, a escolha do nome, que não podia ser outro: Davi, o amado. O eleito de Deus. Como o Rei que todas as noites fazia sossegar a minha alma incansável, com sua poesia de fé. Isso. Era isso que aquele pequeno ia trazer, o sossego para uma alma que implorava por uma razão Maior.
 E ainda sinto o cheiro da tinta salpicando o chão do quarto. Quantos sonhos em celeste impregnados pelo pincel! Estes me renderam ataques de euforia noturna, quando despertava só pra misturar um pouco daquele sonho com a magia do silêncio de uma madrugada.
 Fui ficando pesada. Quase que por medo. Queria enchê-lo de todos os nutrientes, e a água que saturava-me o estômago era pra deixar-te o mais confortável possível. A cada manhã os meus olhossaltavam de alegria, ao imaginar que poderia ser aquela a primeira mexidinha. E essa manhã chegou. E por minha conta teria durado para sempre, ora aninhando-se embaixo da minha mão, ora sumindo, lá estava ele... quanta bênção, Deus!
 A partir daí poderia ter mudado meu nome para Bomba Relógio Sousa, ou Pilha de Nervos Dantas. Tudo era espera. E já ensaiando nossas noites futuras, pus-me a dormir lendo-lhe salmos, acalentando,conversando...e tão sutil essa comunicação que não poderia ser compreendida para além e fora de nós dois.
  Malas prontas. E aquela imensidão de eternidade finalmente passou,saturada de ansiedade,até medo, e muita euforia.
 E o dia chegou, ele o escolheu. A dor anunciou-se, como a própria dor que acompanhará para sempre uma mãe: A dor imperiosa de morrer sempre mais até transitar fora de si, para amar, amar e amar. A dor que acompanhará para sempre uma mãe por não poder mais conter em si o que há de mais precioso do que ela mesma: a dor de permitir a contragosto que seu coração passe a viver do lado de fora.
 E com o primeiro raio de sol ainda tão sutil, saímos de casa, para voltarmos abraçados. A natureza não ajudou, mas enfim, num fim de tarde...é...num fim de tarde...Como tantos ocasos que passei, mais jovem, a sós com a imensidão do mar. Ou mesmo quase criança, quando subia no telhado bem nesse horário para contemplar o espetáculo de luzes e ver a noite chegar. Num fim de tarde, que diz mais sobre mim do que trocentas mil palavras, chegava ele. Primeiro, com a melodia mais suave que meus ouvidos já sentiram: um chorinho que me fez estarrecer como se a minha própria vida começasse ali. Depois, de encontro ao meu rosto, à minha voz, aos meus braços.
 E desde esse instante saltei para uma órbita além da que vivem os meros mortais. Talvez por isso a comunicação com esses tornou-se mais difícil: eu deixava de ser, pensar e falar para apenas sentir. Mas novamente dor: a dor de te alimentar,exatamente naquele momento que imaginei povoado de magia e carinho, vinha a dor e me tirava a noção de espaço, vertendo-me em gotas de lágrimas e sangue. Mas ali estava aquele mini rostinho de santa satisfação e persisti, por saber que coisa melhor no mundo não havia para te alimentar, que oferecesse alimento embrulhado de amor. E assim foi, infelizmente por meses,a dor. Até hoje volteia-me ela, como um trocado que paguei por outro tão imenso sonho.
  Um ano como outro não haverá jamais em minha vida, foi o que vivi. Evoluções por minuto, todas arquivadas na minha memória. O primeiro sorriso, o primeiro afago. O descobrir dos dedinhos, o falar pelos olhos. O início do ‘sentar’, como eu,como ‘Buda’; a chegada de cada dentinho povoando aquele sorriso maravilhoso, como se fosse possível ele ficar ainda mais lindo. Em cada minúcia nossas mãos tão parecidas compartilhavam a fantástica descoberta da vida. Anjo meu...tens o dom de me devolver a calma que a noite tantas vezes insistiu em me levar. Despertava exultante à noite, do sono para o sonho, só pra te contemplar, ou te alimentar.
  E tudo isso trouxe você até aqui. Esse pequeno encanto, que acorda chamando ‘bola’ e tentando dar cambalhotas, eufórico na alegria que é viver, ciente dos mistérios da vida no recomeço de cada manhã. E eu, com minha velha apatia matinal, te levo lá fora e já não sei se tanta luz vem do Sol ou de você.
  Meu pequeno...muitas vezes vou seguir-te assim: contemplando a maravilha da minha felicidade personificada. E ao brincar, você me vê ao seu lado e percebe em meus olhos uma lágrima, que como pequeno cientista você toca, examina e me pergunta com os olhos o porquê.
  Meu anjo...não se admire se outro dia caminharmos com os pés no mar e eu pareça tão distante. Não fui muito longe, estou apenas ‘lá dentro’. É só chamar. Atravessamos milênios num ano e quilômetros com seus minúsculos pés. Lutamos e lutaremos sempre. Seja pelo nosso amor, seja pela utopia de um novo mundo, conte comigo. E se hoje não te dou festas por estarmos em terra de exílio, saiba que festa maior não pode haver do que a que há em mim, agora. Como posso eu te dar parabéns, se a única palavra que me salta do peito e amarra a garganta é: obrigada. Obrigada por existir. Obrigada por me trazer, por encomenda de Deus, a felicidade. Obrigada por me arrancar da velha solidão que, tanta, nem desconfiava que sempre estivera comigo. Obrigada por encher meus olhos de luz e meu sorriso de brilho. Obrigada por dizer, sem única palavra, o que é amor.

Parabéns,
meu anjo,
meu Davi,
minha Vida!

sábado, 25 de setembro de 2010

A águia e as galinhas

-Quero a minha liberdade
Preciso voar, voar!
Estas coisas dizia a águia
No seu agressivo olhar.

Apartada foi de seu ninho
Para entre as galinhas se criar
Olhos filhos do horizonte
Mas não o pode buscar.

Todo o galinheiro a rejeita
Selvagem por dentro, sem querer
Guerreira da terra, sem o ser,
És do infinito azul a eleita.

Deixai sair esse grito
Que não aprendeste a soltar
Filha dos alpes, coração nas garras,
Tuas asas podem voar!

Águia sofrida, te deixes levar
De todas as aves, o vôo magistral
Não és galinha, te criaste como tal
Mas não te conformas em ciscar.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Relento

  A lua hoje desceu mais cedo, veio no meio da tarde. Estava com insônia, e deixou-me esta. Vou até o quintal de madrugada. Deito-me no cimento, entre os matos e flores selvagens de cheiro forte. Não há luzes, não há animais que me ameacem, antes, me observam e igualmente anunciam nossa oração madrigal. A essas horas, a lua já se foi e ficaram-me as estrelas distantes.

  Lembro-me dos meus tempos baianos onde as via quinhentos metros mais de perto. Eu era quase ainda criança, e estava mesmo mais perto do céu. Foi num tempo em que o vento forte trazia medo junto com seus cheiros de noite. Trazia meus pensamentos e sempre preferi fugi-los. Mas a imensidão hoje me engrandece. Seu silêncio me fascina. As estrelas, aqui mais distantes, estão esquecidas como se há muito ninguém as olhasse.
  Marte logo vem. E cada um desses pontos sem nome é ainda partícipe de uma miríade fantástica, e a luz que emanam, sei que pode chegar a mim.
  Preciso da noite. Dependo do mar e dos seus ventos de alegria ou solidão. E por causa desta, nunca esqueço-me. Aceito minha condição...Sou o que quero e preciso, mas ninguém se agrada disso: não há retratos. E sempre mancharei as aquarelas certas sobre mim.  Porque gosto demais de sonhar, porque sempre vou fugir de vez em quando me levando, tentando sem cansar persistir nas coisas que vejo a mais, e só me tratam para que eu  as esqueça.


  Mas amanhecerá. Vou ficando... é que as paredes não me cabem, coisa mais tosca.  Vagante. Tudo que consigo é despertar a curiosidade de uns, o desprezo de outros. E o tédio em mim.
  De meu cérebro, desisto: é fadado. Envelhecerei sempre anos em dias e às vezes precisarei ler algum prólogo para tornar ao raciocínio objetivo, para que as palavras repitam: você está bem, não se preocupe, estamos com você. Quanto ao meu coração desenfreado, segue sangrando de quando em vez: tem desistido de mostrar o que sente.
 
 

criança, a alma do negócio

muito interessante:


http://www.vimeo.com/15027345