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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Relento

  A lua hoje desceu mais cedo, veio no meio da tarde. Estava com insônia, e deixou-me esta. Vou até o quintal de madrugada. Deito-me no cimento, entre os matos e flores selvagens de cheiro forte. Não há luzes, não há animais que me ameacem, antes, me observam e igualmente anunciam nossa oração madrigal. A essas horas, a lua já se foi e ficaram-me as estrelas distantes.

  Lembro-me dos meus tempos baianos onde as via quinhentos metros mais de perto. Eu era quase ainda criança, e estava mesmo mais perto do céu. Foi num tempo em que o vento forte trazia medo junto com seus cheiros de noite. Trazia meus pensamentos e sempre preferi fugi-los. Mas a imensidão hoje me engrandece. Seu silêncio me fascina. As estrelas, aqui mais distantes, estão esquecidas como se há muito ninguém as olhasse.
  Marte logo vem. E cada um desses pontos sem nome é ainda partícipe de uma miríade fantástica, e a luz que emanam, sei que pode chegar a mim.
  Preciso da noite. Dependo do mar e dos seus ventos de alegria ou solidão. E por causa desta, nunca esqueço-me. Aceito minha condição...Sou o que quero e preciso, mas ninguém se agrada disso: não há retratos. E sempre mancharei as aquarelas certas sobre mim.  Porque gosto demais de sonhar, porque sempre vou fugir de vez em quando me levando, tentando sem cansar persistir nas coisas que vejo a mais, e só me tratam para que eu  as esqueça.


  Mas amanhecerá. Vou ficando... é que as paredes não me cabem, coisa mais tosca.  Vagante. Tudo que consigo é despertar a curiosidade de uns, o desprezo de outros. E o tédio em mim.
  De meu cérebro, desisto: é fadado. Envelhecerei sempre anos em dias e às vezes precisarei ler algum prólogo para tornar ao raciocínio objetivo, para que as palavras repitam: você está bem, não se preocupe, estamos com você. Quanto ao meu coração desenfreado, segue sangrando de quando em vez: tem desistido de mostrar o que sente.
 
 

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