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domingo, 24 de outubro de 2010

A mudança, o sentido. O sentido da mudança. A mudança de sentido.

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(alguns pensamentos soltos)

A variar nas minhas crises de inconstância. Agora, mesmo. Porque a mudança é a lei da minha vida, quem sabe a única constância além do meu nome em todos esses anos. Vou aqui puxando pela memória...Lembro da minha infância, da repreensão que levei da professora por não responder à pergunta: “qual sua cor preferida”. Na minha doentia timidez, todas as cores passaram pelo meu rosto enquanto o suor gelava minhas mãos, mas não pude escolher uma só. Já adolescente, ouvia as críticas da minha mãe a dizer que nunca escrevi com a mesma caligrafia por mais de dois dias, e que essa mania tosca não melhorou conforme cresci. Falta de personalidade – dizia ela. Pode ser. Ou o excesso: várias. Dificuldade em eleger uma só. Coisa é que nunca perdi meu tempo com psiquiatras mas taí, quem sabe deva começar a pensar.

Alguém outra vez me disse que pareço uma fugitiva. Como um camaleão, até mesmo minha cor pode ser várias, só querer, das mais claras às mais escuras, coisa dessa herança genética completamente brasileira. Uma fugitiva...pode ser, pode ser...Tava revendo hoje umas fotos, notando a minha impossibilidade de permanecer com o mesmo corte, cor, cabelo por mais de algum tempo que costumam contar em meses, não mais que alguns poucos. Meses, anos, anos que não voltam, anos que usei para amar, coisa que inventei pra me passar o tempo desde a infância.

Ah,o amor, a infância, o amor na infância...Ele é perfeito. Ressurge e volto a entender como fui capaz de alimentar tanto tempo o amor mais platônico e inimaginável de todos. É perfeito, enfim. Um pouco imaturo talvez. Não,não é. Eu é que sou velha demais, sempre fui, e prefiro continuar bem longe. Além do mais nunca fui boa nessa coisa de marketing pessoal, sincera preguiça pra minha propaganda, não sou boa nisso,veja só. O meu sorriso nem sequer é um bom cartão de visita. Nem ao menos gosto de perfumes, prefiro os tipos de cheiros que só é possível sentir de perto, e quanto mais perto mais se sente, mais se embriaga. Tanto mais perto, mais se conhece, nada de merchans, então.

Sigo, mudança que sou. E, procurando o sentido. O sentido, afinal, todo mundo precisa de um. O sentido que por ele mudo e mudei sempre, e mudarei sempre, a cada segundo de cada minuto, o procuro. Já não quero o ‘verdadeiro sentido’, só quero achar algum que dê certo. Eu até tinha um mas o fato é que não por minha escolha, faliu. Explico: temendo a obscuridade dos abismos da minha mente vagante e das minhas ações juvenis ingênuas, passionais e por isso mesmo desenfreadas, achei o sentido. No lar, na casa, na família feliz, rumo certo, igreja no domingo, roupa passada. E tudo fazia sentido quando a casa cheirava a limpeza e a rua já estava em silêncio, cada coisinha no seu lugar, coisa boba assim e pequena capaz de me dar tanta estabilidade que nunca tive, bem assim como fosse possível arrumar a cabeça ao arrumar gavetas.

Mas como disse o Caetano, tudo é muito mais. Agora sei lá, to meio por aí. Ando cansada de sentir e ansiosa por isso. É que sigo vagando e pensando e todas as contradições acabam por explicar-se umas às outras. E sei que sou velha, Estou velha. O meu rosto tem o peso dos anos que fisicamente ainda não completei. Como se visse todos os caminhos a escolher a partir do destino final. Velha e escrava, escrava da mudança, essa me arrasta como um vento, a ela sou acorrentada e arrastada, meus cabelos tocam o chão, e agora sou toda poeira de estrada e estradas. E tanto sou mudança que tenho dificuldades em manter o sentido do texto, o sentido do início do texto. É, o sentido.









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Um comentário:

Marcelo S. Silva disse...

Esse teus "pensamentos soltos" me fizeram refletir sobre o sentido de está perambulando nisto que denominamos vida.
valeu!!!