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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ela já não sabia mais insistir na própria morte. Descobria que queria desesperadamente viver. Queria ir além de admirar os fascinantes precipícios, queria conhecer outros crepúsculos, tinha a sede de cores novas, de contar novamente as estrelas. Descobria que ainda respirava e começava a tomar fôlego fundo. Não dava mais pra retroceder. Acordava.

Então lembrava de quando se deixou arrastar pela lama, para o pântano. Jamais encontrou as águas cristalinas e tranqüilas que buscava. Não podia, não seria, não era o amor. Nem tudo que escapa ao controle da amizade é amor. Muito pouco o é.

Não sabia fechar aquela porta. Sim, a porta, porque as janelas estavam sempre fechadas. Se alguma houvesse aberta na certa um dos dois teria se atirado. Mas ela as fechava cuidadosamente mesmo quando alguém insistia em bater. As fechava cuidadosamente a cada dia que saía e depois fechava a porta atrás de si, sem conseguir deixar lá dentro todas as lágrimas. São essas que às vezes nos traem, e escorrem a verdade salgada.

- e o que havia feito de si?

O que sobrou ela enfiou em alguma gaveta. Mas aqueles CDs guardados teimavam em tocar na sua cabeça. E as cinzas das bobas cartas de amor queimadas ainda cheiravam forte, teimosas. Guardou tudo, escondeu tudo. Ela mesma escondeu-se. Porque um dia ele disse que tudo aquilo eram bobagens- e tudo aquilo era tão ela. Tudo isso porque um dia sonhou demais, idealizou demais. Porque achou que podia em si com o mundo inteiro nas costas. E na verdade um sonho que tem o poder da liberdade, pode ser destruidor: escraviza. As pessoas seguem insistindo em caminhos tortos, por medo do fim, por medo do que essa palavra tão pequena encerra. O fim é desastroso. É terrivelmente doloroso. E quando a dor a dois já há muito tempo é maior que a dor do nunca mais, não há mais o que temer.

Não posso mais fingir que não há dor. Quero olhá-la de frente. Preciso saber que sou mais forte.



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Apesar de você


Se eu pudesse fugir e te levar comigo
Se eu pudesse alcançar o fim do sol contigo
Se eu pudesse reinventar o meu destino...


Se eu pudesse ousar te amar
E estar contigo noutro lugar
Talvez não precise ser tão longe...

Se eu quisesse não calar essa idéia
Tão quieta, tão muda e sem pretensão
E mergulhar nesse caminho
E recomeçar agora...

Se eu pudesse não ver tudo tão real
Se eu fosse como todos, simplesmente normal
Se eu não pensasse tanto
Não temesse tanto
Se eu não me doasse tanto...

Se eu pudesse querer viver
Me atirar sem me importar
Nenhum medo de cair, nenhum medo de voar
Amar só por amar,
sem sentido, sem limites, sem explicação...


Se eu pudesse te dizer como agir
Se eu pudesse te contar tudo o que eu quero
Se eu pudesse saber o que eu quero...

Se eu pudesse fechar meus olhos
E não pensar, e me deixar querer
Se eu pudesse te querer, apesar de você,
Apesar de você...




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E me vejo aqui nessa terra hostil, de um calor implacável, desses onde não há lugar para flores. E eu em vão as procuro na floresta, com meus olhos ansiosos seguindo a poeira da estrada, em vão. Elas estão muito longe – e eu invariavelmente longe delas. Tento redescobrir o ocaso, mas o fim de tarde aqui é de uma luz febril, e o céu perfeitamente limpo mal o posso olhar, há muito não encontro nele as cores que um dia tingiram os meus sonhos. Tenho tentado voltar pra mim, já há muito tempo me perdi, e parece difícil retomar o caminho. É que tudo que venho fazendo é tentar não ser assim tão inconstante, assim tão sentimento. Renego-me. Tentando a qualquer custo me livrar desse jeito tão meu de amar, que de tão puro é ingênuo, infantil. E se me mostram que amor e sinceridade são quase antagônicas, onde me refugio, eu que não sei separá-las uma da outra?

Que se pode fazer quando sua alma está do lado completamente oposto, transparente e vulnerável, do lado de fora? Que se pode fazer se ela teima em não obedecer e salta, e saindo pelos seus olhos, suas mãos, suas palavras, se estende para muito mais longe que a cela do seu corpo? em vão me esforço para comprimi-la, e então vejo-me de repente, oca, a cada dia que luto para matar covardemente essa saudade traiçoeira, e uma dor que de tão infinita não permito senti-la. E tanto mais finjo que não se fez sombra em mim, mas esta sombra me acompanha, nas cicatrizes do meu sorriso, nessas lágrimas que viram pântano, no brilho opaco dos meus olhos cansados. E assim se torna impossível retomar meus cacos e todo o resto que se pode juntar quando não se sabe mais pra onde ir ao se dar conta de que todo seu amor não foi suficiente para alguém.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Camila,

Seja bem vinda ao meu blog. Te acompanho também.

Tenha uma linda noite.

Beijos